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terça-feira, 8 de agosto de 2017
PROPOSTA DE REVISÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA (PNAB):
REFLEXÕES DA FRENTE NACIONAL CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE
É com muita preocupação que a Frente Nacional contra a Privatização da Saúde (FNCPS) avalia a proposta de revisão da Política Nacional de Atenção Básica - PNAB. Diferentemente do debate que historicamente caracteriza as discussões sobre a política de Saúde no país, causa estranheza a metodologia de “consulta pública” por meio eletrônico,
num prazo curtíssimo, adotada para o tratamento de uma questão
estratégica para a organização do Sistema Único de Saúde (SUS), a
Atenção Básica.
Desde a
década de 1970, observa-se que a Saúde é alvo das políticas preconizadas
pelos organismos financeiros internacionais que propõem uma
racionalização da atuação pública no setor. Caberia ao Estado, então, as
ações de baixa complexidade e que envolvem custos reduzidos, voltados
para populações socioeconomicamente desfavorecidas ou a grupos de maior
vulnerabilidade, além de se responsabilizar pela oferta ou compra de
serviços mais caros. Este último intento, ou para desonerar planos ou
empresas de saúde de gastos vultosos com seus clientes, ou favorecendo a
iniciativa privada que venderia serviços ao Estado. Esta lógica
encontra-se presente na proposta de Cobertura Universal de Saúde, defendida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 2005.
O que, a
princípio, atenderia os interesses da população, na verdade esconde a
subordinação do direito à Saúde aos interesses do mercado,
distanciando-se da proposta de acesso universal, um dos princípios do
Sistema Único de Saúde (SUS), em que as ações em Saúde seriam acessíveis
a todos, de acordo com suas necessidades e independente do nível de
complexidade envolvido.
No Brasil, o
setor privado há anos vem sendo sustentado pelo fundo público, não só
pela dependência do SUS pelos seus serviços, por não contar com uma rede
estatal suficiente para o provimento de ações em saúde, como também
pela passagem da responsabilidade do Estado na execução dessas ações
para as Organizações Sociais e Organizações
da Sociedade Civil de Interesse Público. Assim como, pelos novos
arranjos institucionais que flexibilizam os princípios dos serviços
públicos, como as parcerias público-privadas e a criação das empresas
públicas de caráter privado, das quais a Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares é um exemplo. Com o discurso de ineficiência do Estado,
criam-se “novas formas de gestão”, que nada mais são do que formas
indiretas de privatização, o que alguns estudiosos têm chamado de privatização não-clássica.
Tornam-se
agudos os desafios para o pleno funcionamento do SUS. Ao crônico
subfinanciamento e cortes recorrentes de recursos específicos da Saúde,
medidas de desfinanciamento das políticas sociais são adotadas com
impacto direto sobre a capacidade de provimento de serviços, como a
aprovação da Desvinculação de Receitas da União (DRU), que aumenta para
30% a utilização dos recursos da Seguridade Social para outros fins até
2023; e a famigerada “PEC do fim do mundo”, emenda constitucional
aprovada em Dezembro de 2016 que congela por 20 anos os gastos sociais.
Nada
diferente se poderia esperar de um governo que condena a classe
trabalhadora a pagar os custos da crise pela qual passa o capitalismo. O
governo ilegítimo de Michel Temer, além de executar um dos
maiores ataques aos direitos dos trabalhadores, com a recém-aprovada
reforma trabalhista e a proposta de reforma da previdência, não esconde
sua vinculação com o grande capital. Basta saber que seu ministro da
Saúde, Ricardo Barros, foi eleito deputado federal com financiamento de
um grande plano de saúde privado e recorrentemente faz declarações sobre
a necessidade de se repensar o caráter público e universal do SUS, além
de fomentar propostas privatistas, como a criação dos planos populares
de saúde.
A proposta
de revisão da Política Nacional de Atenção Básica não faz alusão clara a
questões como financiamento, infraestrutura necessária para
funcionamento, condições de trabalho, concurso público, garantia de
direitos para os trabalhadores em Saúde, acesso a serviços, medicamentos
e insumos por parte dos usuários, nem tampouco a garantias de
articulação da Atenção Primária à Saúde - APS com os outros níveis de atenção (média e alta complexidade). O que se pode identificar de maneira explícita é uma proposta de flexibilização da forma como a APS é operacionalizada no Brasil, através da Estratégia de Saúde da Família.
Ato em Defesa do SUS ocorrido no Rio de Janeiro em 04/08/2017 |
Não é
somente ao método, mas também ao conteúdo, manifesto ou não, que a
Frente Nacional contra a Privatização da Saúde (FNCPS) faz críticas à
proposta de revisão da Política Nacional de Atenção Básica.
Restringindo
o amplo debate a uma consulta pública e não tratando de maneira
explícita questões essenciais para a estruturação e efetivo
funcionamento da APS, corre-se um grande risco de estarmos diante de uma
iniciativa que aponta para o aprofundamento da privatização da Saúde no
país e condena a atenção básica a adquirir um caráter residual e
assistencialista, diametralmente oposto a sua possibilidade de
reordenação do sistema de Saúde do ponto de vista da efetivação dos
princípios de universalidade, integralidade e resolutividade do SUS.
A FNCPS
reafirma seu compromisso com a defesa de um sistema de Saúde público,
inteiramente estatal, de qualidade e que atenda todas as necessidades da
população. Reforça seu repúdio a qualquer forma de privatização dos
direitos sociais, em especial aqueles relacionados à Saúde. Insiste na
necessidade da organização da classe trabalhadora para a resistência a
este momento de ataque aos seus direitos e avanço na construção de um
projeto de sociedade que atenda aos seus interesses.
Não à Proposta de Revisão da Politica Nacional de Atenção Básica!
Nenhum direito a menos! Nenhum serviço de Saúde a menos! Nenhum trabalhador de Saúde a menos!
Saúde não é mercadoria!
FRENTE NACIONAL CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE
Agosto de 2017
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